Acapital do Maranhão é uma das cidades mais interessantes do Brasil. Fundada por franceses em 1612, ocupada por holandeses e colonizada pelos portugueses, São Luís é palco de histórias e lendas passadas de geração e geração, que contam mais sobre a construção da cidade em Upaon-Açu, palavra tupi que significa ‘Ilha Grande’.
A lenda da Serpente Encantada de São Luís do Maranhão é uma delas e está na ponta da língua de todo ludovicense, nome dado para quem nasce em São Luís do Maranhão.
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A lenda da Serpente Encantada de São Luís
Conta-se que uma imensa serpente encantada vive adormecida nas profundezas da cidade, dentro das galerias subterrâneas que ocupam toda a extensão do Centro Histórico de São Luís, declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1997.
E mesmo dormindo, a danada continua crescendo sem parar debaixo da Ilha do Amor. Dizem que sua cabeça, com olhos vermelhos e presas afiadas, fica sob na Fonte do Ribeirão. A barriga, por sua vez, já alcançou a Igreja do Carmo e a cauda está debaixo da Igreja de São Pantaleão.
Segundo a lenda, quando a cabeça da serpente finalmente alcançar seu rabo, ela despertará num sobressalto e arrastará a cidade para as profundezas do mar no atar de suas duas pontas. Ouroboros!
Até que esse dia chegue, não saberemos nem se e nem quando. Mesmo assim, há quem jure ter visto os olhos de fogo da tal serpente encantada ao olhar por trás das grades das bocas da Fonte do Ribeirão, entre as ruas dos Afogados, das Barrocas e do Ribeirão.
É por isso que os ludoviscenses aconselham: não dê as costas para a Fonte do Ribeirão. Nem na hora do samba e do reggae que acontece toda quinta por ali. Quem é que vai desobedecer?
A origem da lenda da Serpente Encantada de São Luís
Apesar dessa lenda ter semelhanças com outras lendas amazônicas que também falam de cobras grandes, como o Boitatá, por exemplo, lindamente retratado na nova temporada da série Cidade Invisível, ela tem uma forte ligação com as construções subterrâneas que existem por toda a extensão do centro histórico a capital do Maranhão.
Essas galerias foram construídas no final do século XVIII e interligavam poços e nascentes para facilitar o acesso de água potável à população. Porém, esse complexo labirinto também era usado pelos padres que habitavam a Ilha Grande durante fugas em momentos de perigo.
Nada melhor que um imenso monstro peçonhento para proteger o local dos xeretas, né?!
Independente da factualidade de sua origem, a lenda é tão forte e está tão presente no imaginário ludovicense, que a história da serpente encantada é representada em diversas manifestações culturais.
Um desses exemplos é a música ‘A Serpente’, do álbum Pet Shop Mundo Cão, do compositor maranhense Zeca Baleiro.
“Céu azul, rio anil
Dorme a serpente
Levanta miss serpente
Põe tua lente de contato
Mira dos mirantes
Os piratas não param de chegar
Vem ver como é que é
Vem sacudir a ilha grande
Vem dançar, vem dançar
Alhadef te espera na casa de nagô
Eu quero ver
Eu quero ver a serpente acordar
Pra nunca mais a cidade dormir
Na batida que vai, fareja e rosna
E voa sobre os tempos da cidade
Acorda mademoiselle serpente
Desfila na rua da inveja dessa gente
Vem que o touro encantado
Já te espera acordado
Ouve o coro do meu batalhão pesado
Acorda milady, vem ver são João
Vem cá vem dançar com teu Cazumbá
Desperta do sono, derrama veneno
Faz tua fuzarca o teu carnaval
Alhadef te espera na casa de nagô”
Essa música traz outras referências interessantes e começa com a leitura de um trecho do Sermão da Quinta Dominga da Quaresma, do padre Antônio Vieira, que viveu no Maranhão de 1652 a 1661.
Essa é a parte mais famosa do tal discurso, e diz o seguinte: “Resolvi-me a vos dizer uma só verdade. Mas que verdade será esta? Não gastemos tempo. A verdade que vos digo é que no Maranhão não há verdade.”
E apesar do viés colonizador de Vieira, tal trecho não se refere aos maranhenses, mas sim às variações extremas das condições climáticas em São Luís, já que ele completa logo depois:
“Na Bahia, que é a cabeça desta nossa província do Brasil; acontece algumas vezes o que no Maranhão quase todos os dias. Amanhece o sol muito claro, prometendo um formoso dia, e dentro em uma hora tolda o céu de nuvens, e começa a chover como no mais entranhado inverno.”
Onde ver a serpente encantada de São Luís
Quem não quer arriscar ficar cara a cara com o bicho na Fonte do Ribeirão, pode encontrar versões da serpente encantada em alguns locais da cidade.
» Lagoa da Jansen
Dentro da Lagoa da Jansen, um dos importantes pontos turísticos de São Luís, você encontra a escultura do artista plástico Jesus Santos, inspirada na Lenda da Serpente Encantada de São Luís.
» Mirante da Litorânea
Outra escultura inspirada na lenda está localizada na Avenida Litorânea (próximo ao Hotel Blue Tree Towers). Ela é assinada pelo artista Ítalo Fonsecada e faz parte do projeto de reforma e revitalização do Mirante da Litorânea.
Planeje-se para visitá-la no final da tarde/começo da noite.
Outras lendas de São Luís do Maranhão
» A carruagem fantasma de Ana Jansen
Todo ludovicense já ouviu falar na mulher que vaga pelas ruas de São Luís nas noites de sexta-feira a bordo de uma carruagem fantasma puxada por cavalos decapitados (ou pela mula sem cabeça, em algumas versões da lenda).
Ana Jansen é o nome dela e o castigo eterno de vagar pelas ruas da cidade, teria sido dado para expiar seus pecados pelo passado de crueldades cometidas contra escravizados.
Descendente de europeus, Donana foi ‘desonrada’ e expulsa de casa por ter engravidado ainda adolescente de um homem desconhecido. Foi acolhida por um homem que fazia parte de uma das famílias mais ricas da época e com quem manteve um relacionamento extra-conjugal até a morte de sua esposa (ele era casado).
Com a morte do coronel, tornou-se uma poderosa senhora de terras e escravizados e também atuava como líder política e passou a ser chamada de ‘Rainha do Maranhão’.
Além do prestígio (e inveja) que gerava em boa parcela da população por ser uma mulher e comandar a maior produção de algodão e cana de açúcar do Império, Ana Jansen também era conhecida por tratar com crueldade funcionários e os escravizados que eram responsáveis pela manutenção do seu império.
E sem querer minimizar as barbáries cometidas contra escravizados em toda a América, alguns historiadores dizem que muitas dessas histórias foram criadas como fruto do preconceito da sociedade da época com a figura da mulher. Principalmente uma mulher como Donana, que durantea maior parte de sua vida foi alvo dessa sociedade moralista.
» Praia do Olho d’Água
Localizada a 10 Km do centro de São Luís, a Praia do Olho d’Água é uma das praias mais bonitas da capital maranhense. Dizem que a origem de seu nome vem de uma lenda antiga, que conta que ali existia uma aldeia indígena e que em certo tempo, a filha do cacique que se apaixonou por um jovem belíssimo, que amava tomar banho de mar.
Porém, a beleza do rapaz também despertou o interesse da Mãe d’Água, que o envolveu em seu canto e o arrastou para as profundezas do mar.
A filha do cacique ficou desolada e passou dias, semana e meses andando pela areia da praia, onde chorou até morrer e onde foi enterrada. Ali brotaram olhos d’água, que formaram a nascente de rios que correm para o mar. Lágrimas da filha do cacique, que ainda chora pela perda do seu amor.
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E aí, curtiu as lendas de São Luís do Maranhão?
Para os viajantes que gostam de história, cultura e lendas fascinantes, a capital do Maranhão é um destino obrigatório. São Luís do Maranhão é um tesouro para quem quer conhecer a história e a cultura do Brasil.
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* As lendas citadas neste artigo circulam oralmente entre os maranhenses e foram livremente adaptadas. Todas as ilustrações são originais, feitas em colaboração com uma inteligência artificial.