A turbulência e o medo de voar

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Não sei você, mas eu, mesmo sendo uma viajante frequente, morro de medo de voar de avião. Basta escutar o som do aviso ‘zona de turbulência’ e ver a luz de colocar os cintos acender para entrar em um transe misturado com pânico, que só vendo pra crer. Não é culpa minha, vai. Não consigo me conter. As mãos ficam geladas, e o coração num pulo avisa: senhores passageiros, segure firme que este avião vai balançar!

A turbulência e o medo de voar

Acho que é um medo normal. Infelizmente não sou do tipo que dorme em São Paulo e acorda em Beijing. Os olhos simplesmente não fecham e a cabeça não pára. Será que você não se dá conta da loucura que é esse ‘bicho’ pesado desse jeito flutuar pelos ares? Eu, hein?

Pode me chamar de ‘a maluca por explicações’, mas de certa maneira, aprender sobre as turbulências, seus tipos, causas e consequências, me conforta.

Neste post você vai conferir curiosidades sobre a formação de turbulências e o que pode ser feito pela tripulação para evitá-las. Quem explica é Menno Kroon, piloto da KLM desde 1990. Acho que ele já deve ter passado por poucas e boas, né?


Os tipos de turbulência

Apesar de todas elas causarem um certo pânico, é importante saber que as turbulências são causadas por causas diferentes.

1. Turbulência causada pelo vento

As turbulências de altitudes baixas, perto do chão são muitas vezes causadas por ventos pesados e podem atrapalhar a decolagem ou pouso, principalmente durante as tempestades. Esse tipo de turbulência é diferente das turbulências de altitudes, e em todos os casos, as equipes de voo sabem lidar com essas situações.

2. Turbulência causada por ar ascendente

Segundo Menno Kroon: “Em altitudes mais elevadas, as turbulências surgem quando o sol esquenta a terra e o ar acima dela. O ar quente se expande e sobe. Isso causa o que chamamos de updraft, que nada mais é do que uma corrente de ar ascendente, que sobe verticalmente. Assim que o ar sobe, sua temperatura cai até o ponto de condensação. Se o ar subir ainda mais, partículas de umidade começam a se formar, criando nuvens. E isso é bom, pois assim podemos ver a turbulência, não só pela janela da cabine de comando, como também mostra em nosso radar meteorológico.”

A turbulência e o medo de voar

Porém, se não ocorre a condensação, não é possível ver a turbulência. Essa turbulência é conhecida como clear-air turbulence, uma turbulência sem nuvens. O radar de tempo também não pode detectá-la, pois não há partículas de umidade no ar para refletir os sinais de nosso radar.

“O movimento vertical do ar geralmente é interrompido em altitudes elevadas, porque as temperaturas são muito baixas, motivo pelo qual voamos tranquilos acima das nuvens. Às vezes, porém, nuvens de formato vertical, podem atingir altitudes maiores. Nós normalmente as encontramos em áreas tropicais e fazemos nosso melhor para voar em torno delas.”, conta o piloto da KLM.

3. Turbulência causada por correntes de jato

As grandes correntes de ar da Terra são chamadas de jatos de ar, e produzem ventos extremamente forte em altitudes elevadas, atingindo mais de 300 km/h.

Segundo Kroon, esses ventos sopram principalmente do Oeste para o Leste no hemisfério Norte, motivo pelo qual normalmente leva mais tempo para voar de Amsterdã pelo Oceano Atlântico até os destinos da América do Norte do que pelo caminho contrário.

“No voo de partida de Amsterdã, tentamos evitar jatos de ar se pudermos, já que isso significaria voar contra o vento. No voo de chegada à capital holandesa, tentamos tirar o máximo de vantagem de estar a favor do vento. Como resultado, um voo de Nova York até Amsterdã pode levar até duas horas a menos do que o voo de saída do aeroporto holandês”, completa o piloto

O problema é que a corrente de jato pode mudar de direção de uma hora para a outra quando áreas de alta ou baixa pressão, e muitas turbulências podem surgir nessas chamadas dobras, similares àquelas em um rio de corrente rápida.

4. Turbulência causada por montanhas

Se houver um vento forte, o ar pode ser direcionado para cima quando encontrar montanhas mais altas. Isso pode causar ondas que podem ser sentidas em altitudes elevadas e em distâncias grandes. Como resultado, às vezes ocorrem turbulências.

5. Turbulência causada pelo vórtice de esteira de um avião

Outra forma de turbulência é aquela causada pela própria aeronave. “A turbulência de esteira é parecida com aquela deixada por um grande navio passando pela água. Por via de regra, aviões maiores resultam em esteiras maiores e aviões menores são mais vulneráveis caso encontrem alguma. É por isso que temos regras especificando a distância e intervalo mínimos entre duas aeronaves”, conta Menno Kroon.

A turbulência e o medo de voar

É por isso que um Boeing 737 tem que esperar mais tempo na pista depois que uma aeronave grande decola.


O que os pilotos podem fazer?

Durante a preparação para o voo, o piloto e co-piloto sempre estudam as tabelas de previsão do tempo para se preparar para as turbulências.

Segundo o piloto da KLM Menno Kroon, os pilotos tentam evitar qualquer tipo de turbulência que consigam ver da cabine de comando ou nas telas de radares. Eles também mantêm contato com o controle de tráfego aéreo e com outras aeronaves na área para se informar das condições climáticas.


Turbulência inevitável?

Kroon ainda finaliza: “Frequentemente me perguntam se as turbulências podem danificar as aeronaves. Há pouca ou nenhuma chance de isso acontecer. Um avião na verdade é bastante flexível. Uma vez eu visitei a planta da Boeing e vi a asa de um 747 dobrada vários metros para cima numa estrutura de testes, só para ser solta novamente com um estalo. Isso se repetiu vez após vez, dia após dia, ano após ano, e tudo permaneceu perfeitamente intacto. Então se você alguma vez estiver num assento na janela e vir a asa se movendo para cima e para baixo, não se preocupe, ela foi feita para fazer isso mesmo.”

Sabe o que é melhor em tudo isso? Assim que você sente a aeronave tocar o solo, parece que todo o perrengue do voo turbulento simplesmente some da memória. Hora de planejar a próxima viagem! Boa viagem!

A turbulência e o medo de voar


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Fonte: KLM/Assessoria de Imprensa


Alessandra B. Fratus
Alessandra B. Fratus
É fotógrafa, videomaker e bióloga. Largou tudo e ganhou tudo ao mudar de rumo em 2012 depois de defender um doutorado em biologia molecular na USP. Desde então vive, viaja e trabalha com foto e vídeo, sua verdadeira vocação.
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